Este "relato" da viagem será colocado apenas em um post por que uma parte depende da outra. Peço que me desculpem pelo tamanho ok? Tenho certeza que estamos sendo justos em nossas explicações e conseguindo nomear e agradecer à todos que nos ajudaram.
Então vamos lá:
Fiz um relato sobre essa viagem de forma diferente. Querendo ser um escritor ou algo parecido, relatei a viagem em um texto com capítulos e textos mais cheios de poesia e pensamentos. Não vou publicá-lo!
Vou me dar o direito de fazer somente alguns comentários sobre a viagem, ou sobre as viagens daqui para frente, ao invés de publicar esse relato completo que fiz.
Leio sobre viagens e viajantes, conquistadores e suas conquistas, além de outros livros que compro por impulso e vejo que são apenas diários sem história alguma, somente fatos de aventuras que, a cada pessoa, soam de forma diferente.
Tenho me sentido tão ínfimo perto de alguns relatos, livros e documentos que tenho lido. Tão simples perto de pessoas que tem tanta história, tanto mais para contar, que quero me dar o direito de conquistar mais, de ter mais o que contar para gastar os olhos de quem acessa esse nosso blog. Tenho certeza que este pensamento compartilho também com a Chris e sei que a pessoa que procura o blog vai compreender.
Diferente de outras viagens que fizemos, nesta, pelos acontecimentos, ficaram escurecidos os fatos que, para nós, eu e a Christiane, foram os mais importantes. Os momentos juntos, as alegrias em ver os lugares que planejamos visitar, os passeios, estradas, cidades que passamos e queríamos estar lá. Tudo para quem procura nosso site ficou em segundo plano já que tivemos um problema.
Tenho uma teoria que quero partilhar com vocês, vejam se estou certo: o cidadão vai a uma corrida de carros para ver o acidente e não para ver a vitória de um piloto; ele vai a uma competição de qualquer modalidade, ou a uma apresentação, para ver a desgraça ou então a desonra de quem está competindo ou se apresentando.
Digo isso por perceber o ser humano nessas situações e, senão, como você me explica a quantidade de acessos que temos no blog com um relato de viagem, mesmo que seja uma conquista, como foi nossa viagem à Ushuaia, quando a Chris foi de Falcon, nós dois, mas ela sozinha em sua motocicleta. O relato dessa viagem gerou em um ano a mesma quantidade de acessos que o relato do problema em sua moto nesta viagem, gerou em um ou dois dias.
Senti-me um pouco estúpido por despender tempo escaneando dados, colocando fotos e dicas de passeios ou hospedagem. Depois pensei e percebi que o que colocamos no site nos relatos, tem aos montes na internet. Na maioria das vezes, muito melhor elaborados que os nossos.
Isso é apenas uma constatação.
O cara vai a tourada para ver o touro ou o toureiro morrer, senão não valeu a pena!
Bom, dito isso, quero dizer que fizemos a viagem que queríamos, com muitas paisagens inesquecíveis. Passamos momentos de pura satisfação e felicidade juntos e passeando de moto, nosso prazer, seja em uma ou duas, juntos!
Mesmo após o ocorrido com a moto da Chris (o que relatarei a seguir), fizemos o restante da viagem em uma só moto, seguindo o planejamento inicial e descobrimos lugares que queríamos, paisagens que vimos em nossas pesquisas e tudo correu da melhor maneira que foi possível.
A todos que querem fazer esse passeio, recomendo e com o maior prazer passo tudo o que sabemos sobre os lugares a quem se interessar.
A Argentina e o Chile, para mim são países que tem alguma coisa especial. Não sei explicar se é o povo acolhedor, se são as cidades, a Cordilheira, a história, não sei explicar. Sei que adoro viajar pelos dois países.
Tenho um pouco de medo de viajar neste momento no Brasil por causa da precariedade das rodovias e os valores de hospedagem, combustível e etc, mas tenho certeza que ainda o farei de forma mais ampla. Somos patriotas e amamos o Brasil, mas, o mesmo carinho temos pela America do Sul e sua história.
Cansei de ler os tais relatos e livros de viagens que mencionei, mostrando as dificuldades ou o passar de dias sobre a moto, sem ao menos saber por onde estava o contador, passando naquele momento. Sem saber qual a importância daquele local para a história do país.
A história da Argentina, Chile e de toda a América do Sul se confunde, desde os descobrimentos até a atualidade. Guerras, conquistas, povoados que se transformaram em mega cidades, tudo muito interessante e é esse tipo de viagem que gostamos de fazer.
Bom, é isso! Vou agora relatar o que ocorreu e finalmente dar “fim” a nossa viagem, que para nós só terminou agora com a chegada da moto ao Brasil.
Parte II: O problema com a moto da Chris
Aconteceu no dia 2 de novembro, quando passávamos Antofagasta, já uns 90 quilômetros.
A Chris me perguntou no comunicador se eu estava sentindo a minha moto perder potência, por que sentia a sua fraca. Falei que não e, olhando no retrovisor percebi um caminhoneiro que vinha dando sinal de luz para ela. Perguntei se ela sabia o porquê e ela me disse que não, mas que ia passar na minha frente para que eu pudesse ver.
Quando ela passou percebi que havia chamas na roda traseira da moto dela. Imediatamente pedi para que ela parasse e, não sei explicar como, mas conseguimos descer das motos, desligá-las e apagar o fogo numa velocidade incrível. Tive medo que fosse no tanque de combustível que fica abaixo do banco nesta moto. Foi o que veio a minha cabeça na hora.
Feito isso, parados e com o fogo extinto, após esfriar tudo, tentei sem sucesso desprender a pinça de freio do disco, que haviam sido consumidos pelo aquecimento. O que havia pegado fogo foram partes plásticas que estão ao lado da pinça de freio (para-lamas e sensor do abs).
Uma observação quanto ao fato é que na internet, após nossa chegada, todo o tipo de comentários “sábios” foram feitos e em mais de uma vez, o mais lógico de quem não lê, apenas julga, foi de que a Chris descansou o pé sobre o pedal de freio. Uma pessoa com mais de 100 mil km de estradas em moto descansou o pé no pedal de freio... Deste para os mais absurdos, sem comentários!
Bom, continuando, como não havia sinal de celular no lugar e assim não tínhamos como pedir ajuda, nem ao menos movimentar a moto que estava travada, me coloquei a tentar descolar o sistema de freio. Inicialmente tentei retirar a roda traseira por que assim poderia tirar a pinça e o disco e instalar a roda novamente para voltarmos a Antofagasta. Isso não foi possível. O eixo saia somente até a metade, e imaginando o estado dos rolamentos e retentores, resolvi abortar a ideia.
Tentei então tirar o óleo de freio do sistema e só assim, forçando com uma espátula de tirar pneu entre a pinça e o disco, consegui descolar o sistema e deixar a pastilha bem longe do disco. Dessa forma poderíamos retornar à cidade que era a última num raio de muitos quilômetros onde tínhamos serviço de uma autorizada BMW.
Fizemos isso e chegando a agência relacionada no site da BMW do Chile, a Automotriz Miranda, o que ocorreu foi que, a priori, nas palavras do cidadão que nos atendeu, a motocicleta não tinha cobertura da garantia no Chile, coisa que o manual dizia contrário e, pior, eles não sabiam se teriam as peças para reposição naquele momento.
Eram já umas 17 horas quando chegamos e, como o atendente da agência nos pareceu interessado em resolver o problema (mesmo dizendo essa primeira idiotice), quando chegou umas 18 horas fomos atrás de um Hotel para passarmos a noite.
Do Hotel ligamos para o BMW Care onde tivemos um atendimento interessado, mas a atendente nos pediu que ligássemos no outro dia, em horário comercial Brasileiro para que tivéssemos efetivamente as informações que queríamos.
No dia seguinte ligamos no primeiro horário e ficou acordado que eles entrariam em contato com a agência para saber o que ocorreu.
Em resumo, a agência, na pessoa do chefe da oficina, o Sr. Adrian Bustos, disse que o problema foi que “deixamos a pastilha de freio acabar”, o que então seria entendido como desgaste natural. E assim fomos tratados pelo SAC e pelo BMW Care, levando em consideração somente essa informação (deixamos a pastilha de freio acabar).
Não vou me estender mais na explicação e podem imaginar tudo o que passamos nesse dia que a moto estava lá, sem peças e nós sem seguro. Na página onde relatamos o problema até certo ponto tem mais informações (neste link).
Fizemos o que foi possível até que desistimos da moto, deixamos lá para os reparos e seguimos a viagem.
Quando chegamos ao Brasil, começamos então uma nova conversa com o SAC que, após uma farta troca de emails bem no estilo multi nacional, com uma resposta sempre muito educada, mas padrão, fomos atendidos com total descaso, ou melhor, descaso não por que respondiam os emails, mesmo após 15 dias, descuido é a palavra certa. Descuido por que a Chris era proprietária de uma moto da marca deles e, sendo assim, imaginávamos que eles ao menos ouviriam nossa história ou tentariam de alguma forma amenizar os prejuízos.
Vale comentar que levamos, por viajarmos sozinhos os dois em duas motos, muita bagagem, muita peça sobressalente, muita ferramenta e imaginem tudo isso colocado em uma só moto, com duas pessoas em cima. Nossa viagem após o ocorrido foi bem diferente do que estávamos acostumados.
São dois fatos diferentes e nada tem a ver com o incêndio em si: em primeiro lugar o chefe da oficina dizer de cara que não teríamos assistência ou os serviços nos termos da garantia em solo Chileno e o segundo, o Care dizer que também não disporíamos de quaisquer serviços oferecidos por eles em manual (ou contrato), no ato da compra, por que, segundo eles, “a moto adentrou a agencia por meios próprios”, ou seja, ela tinha condições de andar. Tinha? Sem freio?
Acionamos o advogado que imediatamente coletou todas as provas que tínhamos, fez uma notificação extrajudicial e enviou ao fabricante. Data expirada e nada da BMW responder e para piorar, estavam chegando às festas de fim de ano e, cartórios e demais veículos que usaríamos para a ação estariam em ritmo Brasileiro de festas.
Auxiliados então por amigos também advogados, resolvemos tomar duas providências: fazer uma notificação através do PROCON e fazer um relato sobre o ocorrido na internet. Fizemos os dois imediatamente.
Foram muitos dias de angústia, incertezas e tristeza. Muitos planos para buscar a moto. Comprar um carro tipo pick-up, uma carreta, voltar andando, pegar a moto ano que vem, enfim, imaginem a ansiedade que passamos.
Temos muitos contatos na internet e graças ao bom Pai, temos também muitos amigos que assim que revelamos o caso, começaram a nos ajudar na divulgação.
Nota que vale dizer sempre é: a moto é uma BMW e o freio é um Brembo. Duas marcas de renome, sim, mas nem por isso isentas de problemas e, em qualquer outro veículo de qualquer outra marca poderia ter ocorrido algo parecido, mas o atendimento do fabricante foi o que nos motivou a divulgar. Não houve em nenhum momento o interesse em difamar nenhuma das duas marcas. Eu mesmo já tive infinitos problemas com outras marcas. A única diferença é que já não esperava nada do serviço e neste caso era o contrário; compramos pela segurança e pela promessa do seguro da marca que, por várias vezes vi pessoalmente funcionar com outros amigos.
Ai veio o que me fez pensar sobre o fato de o ser humano querer ver “o circo pegar fogo”.
A divulgação nas redes sociais me surpreendeu. No facebook tivemos em um só post mais de 100 compartilhamentos e nem sei quantos comentários no mesmo. Quando relatamos no blog, ai sim foi uma barbaridade: em um só dia a página do relato rendeu 900 acessos. Quase o mesmo que alguns relatos de viagens nossos tiveram em anos. Situação no mínimo para se refletir! Fiz uma página somente para os comentários, os quais fiz questão de moderar pois o conteúdo muitas vezes seria difamatório... idem, deixei lá apenas os comentários mais interessantes, mas houveram muitos mais!
A solução veio da seguinte forma: um amigo (Dr. André Garcia) nos adicionou à um grupo fechado no facebook de proprietários da marca, onde estavam comentando o caso. Um “tal” de Maurício que era de uma “tal” de Power BMW nos respondeu em um dos posts que, achou estranho o que aconteceu e que iria nos ajudar no que pudesse.
Aliás, aprendi a discernir “ajuda” de resolução, amigos de “amigos”.
Quero dizer aqui que perdi uma boa quantidade de “amigos”, que precisei nesse momento por terem contato direto com o fabricante e nem sequer respondiam mais meus emails. Vários vendedores de agências aos quais posso numerar as vendas em que fui quem indicou a eles, nem ao menos retornaram meus emails. Isso para mim foi um dos piores acontecimentos relacionados com o fato.
A esses amigos de ocasião, quero dizer o que venho lendo em minha cabeça há tempos: “Eu não guardo rancor, mas tenho uma memória infinita viu! A vida dá muitas voltas”!
Voltando ao “tal” do Maurício. Esse cidadão que nem nos conhecia nem havia ouvido falar nunca de nós, nos enviou ainda mais uma mensagem dizendo que havia lido o relato e que isso não estava certo. Que ele iria intermediar nossa relação com a BMW. Não esperávamos muito já que a quantidade de gente querendo “ajudar” (leia-se: a empurrar para baixo) superava as expectativas, mas foi o contrário. O Maurício, agora Maurício Fernandes, da agência, recém-inaugurada, Power BMW de Santo André nos telefonou e pediu para que contássemos o caso a ele (nota: na véspera do ano novo). Ele “abraçou a causa” e desprovido de maiores interesses se dispôs a ajudar, ou melhor, a resolver.
Ele fez contato com a BMW e, para resumir em poucas palavras, conseguiu que a empresa se comprometesse a arcar com as despesas de oficina e peças, além de se comprometer, ele mesmo, pessoalmente, a buscar a moto no Chile, na ocasião de uma viagem que faria com sua agência de moto turismo, a Premium Adventure, pela região.
O Maurício, juntamente com seu irmão Raul e o Nuno Leotte foram os principais responsáveis por estarmos hoje com o problema resolvido.
Após o contato que ele fez com a diretoria da BMW, explicando o que realmente havia acontecido, recebemos um email, mil vezes mais atencioso e definitivo do SAC dizendo que estavam de acordo e que, para que a relação cliente fabricante não fosse abalada, eles iriam resolver o problema, por que “para eles o que interessa é a satisfação do cliente”.
Mas posso afirmar que quem se interessou pela satisfação do cliente foi o Maurício Fernandes. Sabe ele se queremos comprar uma moto dele? Se queremos comprar um equipamento da loja dele ou então uma viagem de sua agência? Não foi a preocupação desse Senhor. Ele se preocupou sinceramente em resolver um problema.
A "Rosinha" sendo transportada pelo apoio da Premium Adventure
Na carreta, gentilmente transportada pelo Nuno que sempre
nos informava sobre o andamento da viagem dela...
No dia em que chegou à Power BMW
Não tenho necessidade alguma de agradar a ele ou a quem quer que seja, por que para mim já estava decidido o processo contra a BMW (por ter certeza absoluta de nossa razão e meios para prová-la) além da minha ida à Antofagasta para pegar a moto, somente tenho gratidão e respeito por pessoas assim. Por motociclistas, ou melhor, por seres humanos que respeitam ideais, humanidade e cidadania.
E assim foi! A rosinha está de novo no Brasil e estamos com ela.
Quanto à BMW, parabéns a eles, que tenham muito sucesso e que possam aproveitar o momento de vendas para estruturar melhor sua equipe de atendimento e pós venda. Para nós, caso resolvido! Não temos tempo para processos na justiça Brasileira. Não podemos perder tanto tempo com isso. Quem quiser que julgue a vontade o ocorrido, compre ou não uma motocicleta da marca, fiquem a vontade.
Só tenham uma coisa em mente, aqui em nosso país, infelizmente os lucros, as receitas, na cabeça da maioria, vêm antes do respeito, da cidadania. Qualquer marca é assim, não só de moto!
E mais uma última conclusão: é necessário você ter algum contato com a empresa que está te vendendo qualquer bem ou serviço: uma amizade, um vendedor ou gerente que te conheça. Por quê? Por que existe uma coisa, no meu ponto de vista, que é o que um amigo chamou de “medo empresarial”, um medo de ser ou ter fracasso, coisa que quem visa somente um lado do negócio enxerga exclusivamente. Se você tiver um amigo gerente da oficina da marca do seu carro, televisor, computador, você está sossegado, se não, se depender apenas do fabricante ou do Código de Defesa do Consumidor, terá que esperar pela solução morosa e débil da justiça do nosso país.
Parabéns e todo nosso carinho e respeito para essas pessoas, ao Maurício, Raul e ao Nuno que, com muito tato e carinho, souberam nos atender, entender, lidar com seu fornecedor e resolver definitivamente nosso problema.
É de gente assim que o Brasil precisa!
Muito obrigado mesmo!
Agora sim, fim da viagem que se iniciou no dia
22 de novembro de 2.011. Esta foto é histórica
para nós, a chegada em 11 de março de 2.012.
Que bom escrever isso: FIM!!!!